No mês de luta e combate à violência contra a mulher, a coordenadora geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, Francisca Nascimento, sofreu uma tentativa de homicídio no município de São João do Arraial (PI).
O MIQCB está tomando as providências cabíveis para garantir a integridade física e psicológica da coordenadora, além de buscar as vias legais para a condenação do agressor.
No último final de semana, Francisca foi abordada por uma vizinha (que nunca concordou com as ações do Movimento na região). Ela parou a coordenadora geral do MIQCB em frente a sua casa questionando-a sobre um pagamento de uma cerca, retirada durante mutirão comunitário para que mais de 20 comunidades tivessem acesso ao açude Santa Rosa. Francisca informou que a decisão foi tomada pela comunidade e que qualquer dano fosse cobrado na Justiça. O esposo da vizinha surpreendeu Francisca, vindo por trás e armado com uma faca. Francisca se defendeu como pôde e conseguiu se desvencilhar e fugir com a sua irmã, na garupa da moto.
As ameaças começaram ano passado, quando a comunidade se organizou e reconstruiu uma fonte natural de água: o açude Santa Rosa, destruído pelo próprio fazendeiro. A quantidade de pessoas no mutirão comunitário não intimidou um casal (moradores da região e orientados pelo que se diz dono da terra) de permanecerem no local da reconstrução ameaçando várias vezes o grupo. Na ocasião, o açude foi totalmente reconstruído e após cheio atenderá mais de 20 comunidades.
Francisca Nascimento, quebradeira de coco babaçu, como todas as integrantes do Movimento, é exemplo de liderança, coragem e persistência na conservação de uma relação tradicional com o território e acesso livre aos babaçuais. O MIQCB vem se destacando na região dos Cocais, no Piauí, como movimento de resistência aos grandes latifundiários que se dizem donos das terras. Foram várias as ações desenvolvidas pelo MIQCB com o apoio das comunidades no intuito de garantir o acesso a bens essenciais como água e a coleta do próprio fruto nos babaçuais, que mesmo sendo mata nativa, encontram-se cercados pelos fazendeiros e vigiadas pelos jagunços.
As comunidades dos Cocais, no Piauí, não se calaram. Desde novembro de 2017, a população arregaçou as mangas e exerceu um direito assegurado pela Constituição Federal aos povos e comunidades tradicionais que tiram do território sua própria existência, não só da sobrevivência física, mas, toda uma reprodução de vivência cultural e de modo de vida. A CF de 1988 garante a preservação do modo de vida e acesso aos meios de proteção e defesa de seus direitos étnicos e territoriais. A permanência dessas famílias, a maioria quebradeiras de coco babaçu, nas comunidades da região dos Cocais, além da coragem e determinação, é a única maneira de sobrevivência.
A reconstrução do açude Santa Rosa é um exemplo de que a sociedade organizada e mobilizada encontra soluções viáveis para conflitos que envolvem disputa pelo território e pela água.
Fonte – miqcb.org/